Conheça bases de dados e suas aplicações em pesquisas no campo do Empreendedorismo: Socio-Economic Panel (SOEP)

Autores: Adaleny Paiva, Daniel Pagotto e Jéssica Borges
Revisão: Fernanda Arantes
Arte da Capa: Jacqueline Oliveira

Data de publicação: 22/07/2024

 

O uso de bases de dados secundárias para pesquisa em empreendedorismo é frequente entre periódicos de alto impacto da área1. Pensando nisso, essa série de postagens do Blog Lapei tem como objetivo apresentar algumas bases de dados que são utilizadas por pesquisadores da área de empreendedorismo. Hoje, vamos conhecer a Socio-Economic Panel (SOEP), uma base em formato de painel que possui um núcleo principal chamado SOEP - Core. Por meio desse núcleo, novas ramificações de estudos surgiram e diversas outras questões também passaram a ser estudadas. 

Sobre a base de dados

A SOEP é conduzida pelo Instituto Alemão de Pesquisa (em alemão, Deutsches Institut für Wirtschaftsforschung - DIW), desde 1984. Anualmente, são realizadas entrevistas em cerca de 15 mil domicílios na Alemanha para levantar informações diversas sobre renda, histórico de emprego, educação, saúde, dentre outros aspectos. Como é feito um acompanhamento anual dos mesmos entrevistados, é possível monitorar a evolução e dinâmica da vida dos entrevistados ao longo do tempo. 

Cada pessoa acima de 12 anos responde ao instrumento de coleta, sendo que cada instrumento é compatível com a faixa etária do morador, o que também ocorre no caso de alguma edição suplementar. Vários aspectos são levantados, como: 

  • Rendimentos
  • Ocupação 
  • Saúde
  • Big Five ou Modelo de Cinco Fatores de Personalidade*
  • Atitudes em relação à migração
  • Uso do tempo e comportamento ambiental 

Os dados fornecem tanto um contexto geral do domicílio, quanto dos indivíduos, e podem servir para realizar comparações regionais a partir do cruzamento dos dados com os indicadores do contexto local. 
O acesso à base é restrito, porém é possível solicitá-lo para fins acadêmicos através deste link

O vídeo abaixo apresenta um pouco mais sobre os tópicos da pesquisa e a base. 

Aplicação da base em pesquisa no campo do empreendedorismo

Tão importante quanto conhecer fontes de dados secundários é compreender como esses dados podem ser trabalhados nas pesquisas. Devido à riqueza de dados decorrente de vários anos de levantamento, a SOEP é frequentemente utilizada por pesquisas de diversas áreas, inclusive do empreendedorismo. A seguir, vamos detalhar um pouco como a SOEP foi utilizada no artigo Career patterns in self-employment and career success (Padrões de carreira no trabalho por conta própria e o sucesso de carreira) dos autores Michael Koch, Sarah Park e Shaker A. Zahra, publicado em 2021 no Journal of Business Venturing

O estudo teve como objetivo examinar o relacionamento entre padrões de carreira do trabalhador por contra própria (TCP) e o sucesso objetivo e subjetivo.  
Para atingir tal objetivo, os autores trabalharam com um método composto por duas etapas: 

  1. identificar padrões de TCP, por meio de técnicas como Sequence Analysis e o OMSpell Analysis
  2. avaliar a associação entre o padrão de TCP e o sucesso, por meio de uma Análise de Regressão usando Feasible Generalised Least Square (FGLS). 

Os pesquisadores empregaram uma amostra de 205 indivíduos que, entre 1991 e 2016, atuaram como TCP em algum momento da vida e que responderam à pesquisa SOEP em todos os anos do recorte. A variável dependente, sucesso, foi aferida tanto de modo objetivo, quanto subjetivo. O sucesso objetivo consistiu em um logaritmo natural da renda bruta com correção pela inflação. O sucesso subjetivo foi mensurado a partir da satisfação com vida (escala de percepção variando de 0 a 10) e satisfação com trabalho (escala de percepção variando de 0 a 10). A variável independente, por sua vez, foi relacionada a padrões na carreira de trabalho, que consistiam em identificar padrões de carreira nos TCPs. Os autores listaram quatro padrões: 

  • Padrão misto de TCP: não existe uma categoria de trabalho prevalente;
  • Padrão intermitente de TCP: categoria de trabalho assalariada como maioria e breves momentos como TCP;
  • Padrão de TCP por necessidade: categoria de trabalho caracterizada por longo período de desemprego e curtos períodos de TCP ou trabalho assalariado;
  • Padrão de TCP persistente: a maior parte do trabalho foi por conta própria.

As variáveis de controle consistiram nas variáveis socioeconômicas e demográficas, como  gênero,  idade,  estado  civil,  nível  de  escolaridade,  número  de  filhos,  nível  de  emprego e mudança  de  emprego.

Em sequência, foi aplicado o modelo para testar a associação entre o padrão de carreira de TCP e o sucesso:

 Modelo de teste da associação das variáveis Figura 1: Modelo de teste da associação das variáveis 
Fonte: elaborada pelos autores, a partir de Koch, Park e Zahra (2021).

Como resultado, os autores do artigo destacaram que o TCP não é uma carreira em estado final, visto que os indivíduos vão e voltam dessa área entre diferentes empregos. Ademais, eles observaram que existem quatro padrões diferentes de carreira de TCP (trabalho por contra própria misto, intermitente, por necessidade e persistente) que divergem nos níveis de sucesso profissional objetivo e subjetivo e que TCP persistentes possuem maior grau de sucesso objetivo e subjetivo em relação aos demais padrões. 
Outros exemplos de artigos que utilizaram a SOEP podem ser conferidos na lista a seguir: 

  1. Switching to self-employment can be good for your health3
  2. Calling Baumol: What telephones can tell us about the allocation of entrepreneurial talent in the face of radical institutional changes4
  3. 2D:4D and Self-Employment: A Preregistered Replication Study in a Large General Population Sample5
  4. Health as Human Capital in Entrepreneurship: Individual, Extension, and Substitution Effects on Entrepreneurial Success6
  5. In the eye of the beholder? The returns to beauty and IQ for the self-employed7
  6. The perceived well-being and health costs of exiting self-employment8
  7. Entry into self-employment and individuals' risk-taking propensities9

 

Interessou-se pela base e deseja saber mais? Recomendamos alguns links que podem te ajudar.
Site do Painel: https://www.diw.de/en/diw_01.c.875900.en/edition/soep-core_v38eu__data_1984-2021__eu-edition.html
Documentação: https://companion.soep.de/
Canal no YouTube sobre a SOEP: https://www.youtube.com/@SOEPstudie 

 

 

Referências

1PAGOTTO, Daniel do Prado; BORGES, Cândido. Quantitative research in entrepreneurship using R software for data analysis. REGEPE Entrepreneurship and Small Business Journal, v. 12, n. 2, e2384, 2023. https://doi.org/10.14211/regepe.esbj.e2384
2KOCH, Michael; PARK, Sarah; ZAHRA, Shaker A. Career patterns in self-employment and career success. Journal of Business Venturing, v. 36, n. 1, p. 105998, 2021. https://doi.org/10.1016/j.jbusvent.2019.105998
3NIKOLOVA, Milena. Switching to self-employment can be good for your health. Journal of Business Venturing, v. 34, n. 4, p. 664-691, 2019. https://doi.org/10.1016/j.jbusvent.2018.09.001
4SORGNER, Alina; WYRWICH, Michael. Calling Baumol: What telephones can tell us about the allocation of entrepreneurial talent in the face of radical institutional changes. Journal of Business Venturing, v. 37, n. 5, p. 106246, 2022. https://doi.org/10.1016/j.jbusvent.2022.106246
5FOSSEN, Frank M.; NEYSE, Levent; JOHANNESSON, Magnus, DREBER, Anna. 2D4D and self-employment: A preregistered replication study in a large general population sample. Entrepreneurship Theory and Practice, v. 46, n. 1, p. 21-43, 2022. https://doi.org/10.1177/1042258720985478.
6HATAK, Isabella; ZHOU, Haibo. Health as human capital in entrepreneurship: individual, extension, and substitution effects on entrepreneurial success. Entrepreneurship Theory and Practice, v. 45, n. 1, p. 18-42, 2021. https://doi.org/10.1177/1042258719867559
7PATEL, Pankaj C.; WOLFE, Marcus T. In the eye of the beholder? The returns to beauty and IQ for the self‐employed. Strategic Entrepreneurship Journal, v. 15, n. 4, p. 487-525, 2019. https://doi.org/10.1002/sej.1323
8NIKOLOVA, Milena; NIKOLAEV, Boris; POPOVA, Olga. The perceived well-being and health costs of exiting self-employment. Small Business Economics, v. 57, n. 4, p. 1819-1836, 2021. https://doi.org/10.1007/s11187-020-00374-4
9BRACHERT, Matthias; HYLL, Walter; SADRIEH, Abdolkarim. Entry into self-employment and individuals’ risk-taking propensities. Small Business Economics, v. 55, n. 4, p. 1057-1074, 2020. https://doi.org/10.1007/s11187-019-00173-6.



* O Big Five ou Modelo de Cinco Fatores de Personalidade descreve determinadas características da personalidade humana, levando em consideração experiências